Arquivo do mês: agosto 2010

Emir: internet é a desmercantilização da informação

Emir Sader: a nova mídia tem compromisso com o direito de todos

O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir o artigo que Emir Sader escreveu a pedido do Azenha, do Viomundo.

No I Encontro dos Blogueiros, promovido pelo Instituto Barão de Itararé, a intervenção de Emir abriu, com brilhantismo, essa discussão.

Clique aqui para ler Blogueiros apoiam Cloaca e processam Serra.

Leia, na integra o post do Emir:

ESFERA PUBLICA X ESFERA MERCANTIL

O neoliberalismo é a realização máxima do capitalismo: transformar tudo em mercadoria. Foi assim que o capitalismo nasceu: transformando a força de trabalho (com o fim da escravidão) e as terras em mercadorias. Sua história foi a crescente mercantilização do mundo.

A crise de 1929 – de que o liberalismo foi unanimemente considerado o responsável – gerou contratendências, todas antineoliberais: o fascismo (com forte capitalismo de Estado), o modelo soviético (com eliminação da propriedade privada dos meios de produção) e o keynesianismo (com o Estado assumindo responsabilidades fundamentais na economia e nos direitos sociais).

O capitalismo viveu seu ciclo longo mais importante do segundo posguerra até os anos 70. Quando foi menos liberal, foi menos injusto. Vários países – europeus, mas também a Argentina – tiveram pleno emprego, os direitos sociais foram gradualmente estendidos no que se convencionou chamar de Estado de bem-estar-social.

Esgotado esse ciclo, o diagnóstico neoliberal triunfou, voltando de longo refluxo: dizia que o que tinha levado a economia à recessão era a excessiva regulamentação. O neoliberalismo se propôs a desregulamentar, isto é, a deixar circular livremente o capital. Privatizações, abertura de mercados, “flexibilização laboral” – tudo se resume a desregulamentações.

Promoveu-se o maior processo de mercantilização que a história conheceu. Zonas do mundo não atingidas ainda pela economia de mercado (como o ex-campo socialista e a China) e objetos de que ainda usávamos como exemplos de coisas com valor de uso e sem valor de troca (como a água, agora tornada mercadoria) – foram incorporadas à economia de mercado.

A hegemonia neoliberal se traduziu, no campo teórico, na imposição da polarização estatal/privado como o eixo das alternativas. Como se sabe, quem parte e reparte fica com a melhor parte – privado – e esconde o que lhe interessa abolir – a esfera pública. Porque o eixo real que preside o período neoliberal se articula em torno de outro eixo: esfera pública/esfera mercantil.

Porque a esfera do neoliberalismo não é a privada. A esfera privada é a esfera da vida individual, da família, das opções de cada um – clube de futebol, música, religião, casa, família, etc.. Quando se privatiza uma empresa, não se colocam as ações nas mãos dos indivíduos – os trabalhadores da empresa, por exemplo -, se jogam no mercado, para quem possa comprar. Se mercantiliza o que era um patrimônio público.

O ideal neoliberal é construir uma sociedade em que tudo se vende, tudo se compra, tudo sem preço. Ao estilo shopping center. Ou do modo de vida norteamericano, em que a ambição de todos seria ascender como consumidor, competindo no mercado, uns contra os outros.

O neoliberalismo mercantilizou e concentrou renda, excluiu de direitos a milhões de pessoas – a começar os trabalhadores, a maioria dos quais deixou de ter carteira de trabalho, de ser cidadão, sujeito de direitos -, promoveu a educação privada em detrimento da publica, a saúde privada em detrimento da pública, a imprensa privada em detrimento da pública.

O próprio Estado se deixou mercantilizar. Passou a arrecadar para, prioritariamente, pagar suas dívidas, transferindo recursos do setor produtivo ao especulativo. O capital especulativo, com a desregulamentação, passou a ser o hegemônico na sociedade. Sem regras, o capital – que não é feito para produzir, mas para acumular – se transferiu maciçamente do setor produtivo ao financeiro, sob a forma especulativa, isto é, não para financiar a produção, a pesquisa, o consumo, mas para viver de vender e comprar papéis – de Estados endividados ou de grandes empresas -, sem produzir nem bens, nem empregos. É o pior tipo de capital. O próprio Estado se financeirizou.

O neoliberalismo destruiu as funções sociais do Estado e depois nos jogou como alternativa ao mercado: se quiserem, defendam o Estado que eu destruí, tornando-o indefensável; ou venham somar-se à esfera privada, na verdade o mercado disfarçado.

Mas se a esfera neoliberal é a esfera mercantil, a esfera alternativa não é a estatal. Porque há Estados privatizados, isto é, mercantilizados, financeirizados; e há Estados centrados na esfera pública. A esfera pública é centrada na universalização dos direitos. Democratizar, diante da obra neoliberal, é desmercantilizar, colocar na esfera dos direitos o que o neoliberalismo colocou na esfera do mercado. Uma sociedade democrática, posneoliberal, é uma sociedade fundada nos direitos, na igualdade dos cidadãos. Um cidadão é sujeito de direitos. O mercado não reconhece direitos, só poder de comprar, é composta por consumidores.

Na esfera da informação, houve até aqui predomínio absoluto da esfera mercantil. Para emitir noticias era necessário dispor de recursos suficientes para instalar condições de ter um jornal, um rádio, uma TV. A internet abriu espaços inéditos para a democratização da informação.

A democratização da mídia, isto é, sua desmercantilização, a afirmação do direito a expressar e receber informações pluralistas, tem que combinar diferentes formas de expressão e de mídia. A velha mídia é uma mídia mercantil, composta de empresas financiadas pela publicidade, hoje aderida ao pensamento único. Uma mídia composta por empresas dirigidas por oligarquias familiares, sem democracia nem sequer nas redações e nas pautas dos meios que a compõem.

A nova mídia, por sua vez, é uma mídia barata nos seus custos, pluralista, crítica. O novo espaço criado pelos blogueiros progressistas faz parte da esfera pública, promove os direitos de todos, a democracia econômica, política, social e cultural. A esfera pública tem expressões estatais, não- estatais, comunitárias. Todas comprometidas com os direitos de todos e não com a seletividade e a exclusão mercantil.

São definições a ser discutidas, precisadas, de forma democrática, aberta, pluralista, de um fenômeno novo, que prenuncia uma sociedade justa, solidária, soberana. A possibilidade com que estão comprometidos Dilma e Lula de uma Constituinte autônoma permite que se possa discutir e levar adiante processos de democratização do Estado, de sua reforma em torno das distintas formas de esfera pública, desmercantilizando e desfinanceirizando o Estado brasileiro.

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Publicado em 27/08/2010 no Blog do jornalista Paulo Henrique Amorim.

http://www.conversaafiada.com.br/cultura/2010/08/27/emir-internet-e-a-desmercantilizacao-da-informacao/

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Moção de apoio ao Movimento Estudantil da UFU

 

Moção de apoio ao Movimento Estudantil da UFU

 

Frente aos constantes ataques empreendidos pela grande mídia e às nefastas ações autoritárias dos setores conservadores da Universidade Federal de Uberlândia, o CAHIS-UFU vem expressar publicamente solidariedade aos companheiros, dentre eles estudantes dos próprios cursos de graduação em História, que vem sendo criminalizados por acusações absurdas, tanto mais numa sociedade supostamente democrática.

 

Parece não mais ser segredo a aversão ao debate junto à comunidade por parte de determinados grupos reacionários hoje instalados em espaços que gerenciam a universidade. Prova disso são as contantes decisões tomadas às escuras, em reuniões fora do semestre letivo, como no caso da terceirização da mão-de-obra do Restaurante Universitário.

 

Por sua vez, as acusações contra o Movimento Estudantil, tais como a de “formação de quadrilha” e “cárcere privado” distorcem profundamente o caráter reivindicatório manifesto durante a ocupação da reitoria ocorrida no dia 12 de março de 2010. Aqueles que estiveram presentes, cerca de 300 manifestantes, podem confirmar que os pontos levantados pelos estudantes foram muito além da pauta da “proibição da venda e consumo de bebidas no interior dos campi”. As diversas falas desses estudantes revelaram tantos outros aspectos problemáticos na realidade da universidade atualmente, como a precariedade do campus avançado do Pontal e a truculência e ineficácia do sistema de segurança e vigilância.

 

Assim, na tentativa de expressar nosso posicionamento destacamos a partir desta moção que:

 

  • Acreditamos e valorizamos o debate democrático dentro da universidade em suas mais diversas esferas.

  • Repudiamos qualquer tentativa de criminalização a qualquer movimento social organizado, tanto mais quando isso for originário de bases falsas e/ou infundadas.

  • Apoiamos integralmente os companheiros que vem sendo acusados injustamente pelos setores retrógrados da mídia e da Universidade e pelos aparatos de repressão do Estado.

 

 

 

CAHIS-UFU 2010

Centro Acadêmico dos Cursos de Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia

Gestão: “O impossível é dever de tod@s!”.

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Proposta do CAHIS para Semana do Estudantes de História

O CAHIS lança sua proposta para a “I Semana dos Estudantes de História”. Esperamos que todos possam colaborar e que compareçam nas reuniões para discutir e apresentar propostas de espaços e temas.

Clique na imagem para ter acesso à proposta do CA para a Semana dos Estudantes de História.

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